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28.12.16

Autoensaio sobre 2016

Retrato de um artista quando selfie

Talvez pelos retrocessos político-sociais ruins vividos no decorrer deste ano (ou justamente por isso!), posso afirmar, nessa véspera do salto para 2017, que este foi um período de intensa produção na minha lavoura literária.
Inicio este artigo relembrando que pude realizar dentro da Casa Amarela - Espaço Cultural (que coordeno ao lado de Sueli Kimura, Akira Yamasaki e Luka Magalhães), 5 edições do Inéditos & Inacabados, roda bimestral de criação literária. Também mediei 5 Blablablá, que a gente chama de "roda de conversas infinitas" e é na verdade uma arena que se propõe a trocas de experiências e sonhos libertadores em torno da cultura, arte e educação. Na Casa Amarela vivo (desde 2011) a experiência de ajudar a produzir o prato principal, o Sarau da CA. Neste ano foram 11 (sob a batuta do mestre Akira), além de eventos pontuais diversos.
Este ano pela primeira vez um poema meu, Pisagens, foi musicado (no caso, pelo músico Eder Lima) e posteriormente cantado por Ligia Regina. A dupla está finalizando um cd que já tive a oportunidade de ouvir e posso afirmar que já nasce antológico. Como contrapartida à gravação do meu poema, propus ao coletivo de audiovisual do qual faço parte, Lentes Periféricas, que fizéssemos um videoclipe, que ficou muito bonito e já está disponível no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=Erdag8hCSJo&list=LLuyQkaxPUUGh7dH828xwrRg). Este trabalho contou com a coprodução luxuosa da DMK Art Studio, do bróder de longa data, Gilberto Tavares Ferreira. Antes, ainda ao lado da família Lentes, pude realizar o clipe Caminhão de Lixo, música de José Carlos Guerreiro, interpretada pelo mesmo junto com o grupo Cabras de Baquirivu (Xavier no baixo, Ronaldo Ferro na guitarra e Quinho na bateria e percussão). Este clipe também já está disponível no Youtube, na página do LP: https://www.youtube.com/watch?v=KZQXUNCSl8c.
Atendendo a um convite do escritor Sacolinha, participei de 6 encontros da Comunidade do Conto, em Suzano. Dos quatro temas do ano (eram dois por encontro), participei de 3, para a qual confeccionei os respectivos textos: "Copa copo corpo", para o tema Álcool e Juventude, apresentado pelo professor Sérsi Bardari; "A fllha-da-mãe", cujo mote era Periferias Urbanas e foi debatido pela antropóloga Érica Peçanha; e "Milidéias", em que o assunto apresentado pelo escritor Cuti era Literatura Erótica e Identidade Negra. Todos estes textos foram publicados em forma de fanzines temáticos, recebendo muitos elogios onde são apresentados ou lançados.
Outra conquista de 2016 foi o fato de ter sido convidado pelo casal de escritores Márcia Barbiéri e Daniel Lopes, que organizaram para a @link Editora a coletânea de contos "O Outro Lado da Notícia", para o qual contribuí com um texto intitulado "Obra de Escobar Franelas será relançada". Me arrependi muito do tom de deboche desse texto, recheado de autorreferências explícitas e surreais, mas tanto os organizadores quanto o editor do livro, Gláuber Soares, disseram que o texto se adequou à ideia original do livro, que era trabalhar "notícias" em forma de ficção. Creio que eles não mentem, então deduzo que meu texto possa ter ficado realmente bom. Ou não. Quem lê-lo e comentar fará um grande favor a este escritor inseguro. O mesmo casal, aliás, produz o programa Pílulas Contemporâneas, apresentando obras literárias diversas no Youtube. Foi assim que em 10 de maio eles me surpreenderam com o Daniel fazendo uma breve apresentação do meu romance Antes de Evanescer (link https://www.youtube.com/watch?v=dqdCW80cS_I&list=LLuyQkaxPUUGh7dH828xwrRg&index=21).
"Tráfego", poema do meu primeiro livro, "hardrockcorenroll", de 1998, foi escolhido para compor a 35a. edição da revista Cabeça Ativa, da Editora Costelas Felinas (ed. Cláudia Brino e Vieira Vivo), em Santos SP. Ao casal, rendo meu afeto e gratidão.
Ah, quase me esquecia que em 1o. de maio registrei em vídeo 3 poemas, "Chacina Cristã Anticristã", "Empate" e "Obtuso" para o portal Peixe Barrigudo (Guarulhos, SP), dirigido pelos infatigáveis Joel Dias Fo. e Victor Carvalho Lima (https://www.youtube.com/playlist?list=PLpDao5l6bitlXmFhQIqUS_eyEeGIvPLsZ). Em 15 de outubro participei de uma nova edição da Fanzinada (sempre ricamente organizada por outra incansável, a Thina Curtis). Aproveitei para lançar meu romance Antes de Evanescer, na Casa da Palavra de Santo André. E em 28 do mesmo outubro pela primeira vez participei da Caravana Rolidey (criação do escritor Erre Amaral (MG), onde, junto com poetas do naipe de Ana Moraes (SP), Adri Aleixo (MG) e Wélcio de Toledo (DF), e a mediação deferente da educadora Joana Rodrigues (UNIFESP), troquei/trocamos muitas ideias com o público na área externa da estação Osasco de trem. A produção do evento (que fazia parte da 11a. edição do projeto Livro Livre), teve a produção esperta de Afonso Romero (CPTM-SP), e organização geral suntuosa a cargo de Marina Ruivo. Antes, em 13 de agosto, convidado pelo escritor Alba Atróz, participei de duas mesas muito interessantes que discutiam processos literários no universo periférico, dentro do projeto Amparo Literário, realizado mensalmente na Fábrica de Cultura de Cidade Tiradentes, SP. Na primeira intervenção, outra convidada, Márcia Barbiéri fez uma apresentação de meu livro Antes de Evanescer. No momento seguinte, eu que fui incumbido, junto com o o poeta Germano "Urbanista Concreto" Gonçalves de apresentar o poeta, cineasta e multiinterventor cultural Akins Kintê, que estava lançando o livro "Muzimba - Na Humildade Sem Maldade".
Em setembro também veio ao lume a edição da bela revista Mallarmargens, que trouxe encartado 6 poemas deste escriba, ilustrados pela artista plástica e atriz Kátia Horn (http://www.mallarmargens.com/2016/09/6-poemas-de-escobar-franelas.html). O passaporte para entrar nas páginas voluntariosas desta edição foi do escritor Dinovaldo Gilioli, sincronizado com a hospitalidade nipônica de Marília Kubota.
E para complementar este ano jubiloso (pelo menos no âmbito literário pessoal), em 2016 tive o prazer de prefaciar um livro que nasceu fadado a ser clássico: "Afetos", reunião de vários textos internéticos do sempre surpreendente Fernando Rocha. Para o Fernando também concedi um depoimento inseguro, publicado na revista digital Letras et cetera, onde digredi um pouco sobre minhas andanças e percursos. O link da entrevista é http://nanquin.blogspot.com.br/2015/11/entrevista-com-escobar-franelas.html. Outro convite que recebi e atendi foi um pra lá de especial de um bróder de miliano na militância cultural, o poliartista Claudemir Santos. Enviei um texto que ele publicou em sua obra de estreia, "Fantasmas e Demônios de São Miguel", um livro inclassificável, já que em suas páginas tem teatro, poesia, "causos", contos e crônicas.
E, por último, já findando o ano, trouxe à luz uma novela que há muito estava respirando naftalina em minhas gavetas virtuais. Premiado, que, aliás nem tinha esse nome (sequer lembro agora qual era), eu tirei da gaveta quando soube do concurso literário promovido pela Amazon.com através da plataforma Kindle (https://www.amazon.com.br/Premiado-Escobar-Franelas-ebook/dp/B01N0KZWG9/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1481752848&sr=8-1&keywords=Escobar+Franelas). como já vinha pensando há algum tempo em fazer um e-book, aproveitei a oportunidade e estou pela primeira vez trabalhando na plataforma.
Ah, sobre o concurso, é evidente que não passei da fase 1.
Abraçaços, inté daqui a pouco, 2017!

25.12.16

Entrevista: TÂNIA GABRIELLI-POHLMANN (Arte, psiquiatria, comunicação) - Alemanha


No fim de 1998, por conta do lançamento de meu primeiro livro, hardrockcorenroll - poemas, me aproximei de jornalistas, para que tivessem acesso à minha obra. Foi nesse contexto que em algum momento soube que a paulistaníssima Tânia Gabrielli-Pohlmann tinha na Alemanha um programa de rádio voltado para a cultura brasileira, assim como um portal com notícias do Brasil para o público germânico. Sem pestanejar, enviei a ela um exemplar e logo recebi uma devolutiva muito carinhosa. Iniciamos uma diálogo que se estende até hoje e que me proporcionou a seguir a oportunidade de conceder o primeiro depoimento falando de minha carreira então iniciante. Passei a abastecê-la, sempre que possível, com notícias, livros e cd, contemplando a produção efervescente que rola no Brasil. Quando, em 2011, lancei o romance Antes de Evanescer, a generosa Tânia novamente se antecipou e entrevistou-me ao vivo para seu programa Revista Viva.
Foi assim que nossas conversas foram se emendando uma na outra e estreitamos nossa amizade. Nas conversas, porém, eu nunca conseguia elucidar completamente o enigma Tânia Gabrielli-Pohlmann, em razão de suas múltiplas atividades. Pensei então em entrevistá-la, como contrapartida para sua delicada e dedicada atenção a mim, mas também para entender esse furacão que esquenta com tanta beleza e inteligência as terras frias da Europa. Durante quase dois meses, formulei perguntas que ela foi respondendo conforme sua disponibilidade. E o resultado é este diálogo publicado abaixo. 
Espero que todas apreciem. Degustem-na

1) Gostaria de principiar nossa conversa com um pouco de sua história:‭ ‬infância,‭ ‬adolescência e juventude.‭ ‬Ou então,‭ ‬o‭ "‬período brasileiro‭"‬.‭ ‬Pode ser assim‭?
Ih,‭ ‬pode sentar,‭ ‬porque tem história...‭ ‬Vou tentar resumir,‭ ‬certo‭?
Numa quarta-feira,‭ ‬mais ou menos às três e meia da matina,‭ ‬tirei minha mãe da cama e lá foi ela à maternidade.‭ ‬Nasci às‭ ‬04:20‭ ‬horas do dia‭ ‬19‭ ‬de maio de‭ ‬1965.‭ ‬Nossa‭! ‬Há mais de 51 anos‭! ‬Lá se foi,‭ ‬já,‭ ‬mais de meia pizza...
Nasci numa maternidade bem próxima ao Museu do Ipiranga‭ ‬– e já cheguei‭  ‬aos berros‭ (‬seria influência dos fatores externos‭? ‬Casa do Grito...‭ ‬Liberdade...‭).
Passei minha infância e adolescência na região da Vila Prudente,‭ ‬Alto da Mooca,‭ ‬Mooca.‭ ‬Família italiana de ambas as partes.‭ ‬Meu avô paterno era anarquista e teve de fugir da I Guerra.‭ ‬Levou esposa e treze filhos,‭ ‬exatamente como meus avós maternos.‭ ‬Família grande,‭ ‬barulhenta e sempre regada pelo violino‭ ‬do Tio Nicolino,‭ ‬que morria de saudade da Bella Itália...‭ ‬Hoje compreendo bem o que ele sentia por Napoli...‭
Meus pais nasceram na mesma região,‭ ‬ambos em abril de‭ ‬1933.‭ ‬Anos difíceis,‭ ‬em que muitos de seus irmãos nem chegaram ao Brasil.‭ ‬Minha avó materna‭ ‬tinha um tesouro,‭ ‬além dos filhos:‭ ‬um caderno de receitas escondido no vestido.‭ ‬Receitas que acabei trazendo‭ “‬de volta à Europa‭”‬.‭
Minhas lembranças de infância são impregnadas por aromas e cantorias,‭ ‬gritarias e muitas risadas,‭ ‬apesar das dificuldades imensas de famílias de migrantes que não tinham liberdade de expressão.‭ ‬E que tiveram de abandonar tudo para começar uma vida absolutamente zerada.‭ ‬Aprendi a focar o necessário,‭ ‬a simplicidade e a partilha.‭ ‬Até hoje não consigo receber um bombom de presente‭ ‬e não compartilhá-lo.‭ ‬Não tem o mesmo sabor.‭
Uma‭ ‬ intensa alegria‭ ‬ em minha infância foi a descoberta da leitura‭ ‬-‭ ‬ o maior passaporte para a liberdade que um ser humano de quatro anos,‭ ‬com dentes de leite faltantes,‭ ‬mas com uma sede imensa de desvendar o segredo das letras agrupadas,‭ ‬formando palavras.‭ ‬Lembro-me exatamente deste momento e da certeza de que‭ “‬aquilo‭”‬ era,‭ ‬sim,‭ “‬a‭”‬ descoberta.‭ ‬Só no ano seguinte consegui convencer minha mãe a me matricular na escola pública do bairro‭ (‬aliás,‭ ‬num período em‭ ‬que a escola pública era de qualidade‭)‬.‭ ‬Como sou teimosa,‭ ‬persisti até que minha mãe não suportasse mais.‭ ‬Fomos à escola e lá não larguei a calça do diretor,‭ ‬como que agarrada à maior conquista de minha vidinha.‭ ‬Teimosa,‭ ‬persistente.‭ ‬Venci o diretor pelo cansaço e talvez por não querer ver rasgada sua calça...‭ ‬Enfim,‭ ‬lá fui eu para a escola,‭ ‬que se tornou‭ ‬meu local amado,‭ ‬até hoje.
Descoberto o mecanismo da leitura,‭ ‬como os bombons,‭ ‬queria que todo mundo pudesse ler.‭ ‬Ali nascia o que se tornou uma de minhas‭ ‬maiores preocupações e ocupações voluntárias.‭ ‬Minha mãe era kardecista e em seu grupo havia vários projetos de assistência social aos moradores da favela de Vila Prudente‭ ‬e‭ ‬em outras cidades do Estado de São Paulo.‭ ‬Regiões carentes,‭ ‬distantes,‭ ‬isoladas.‭ ‬Foi nesse contexto que comecei a oferecer‭ “‬cursos‭”‬ de alfabetização para adultos.‭ (‬Continuo na semeadura por aqui...‭)‬.‭ ‬Ali houve o contato com Paulo Freire‭ (‬sem saber,‭ ‬à época,‭ ‬de quem se tratava...‭)‬.‭ ‬Aos seis anos,‭ ‬jamais imaginaria,‭ ‬mas foi o início de tudo.‭ ‬Meu objetivo era ensinar aos bóias-frias a leitura e a escrita.‭ ‬Suas mãos,‭ ‬no entanto,‭ ‬não teriam muita facilidade em trabalhar com lápis ou canetas.‭ ‬Resolvi transformar o chão de terra em folha de papel e os cabos de suas enxadas,‭ ‬seus primeiros lápis.‭ ‬Os primeiros movimentos,‭ ‬depois,‭ ‬passariam aos cabos de vassouras,‭ ‬até que pudessem manusear lápis e canetas sobre folhas de papel.‭ ‬A alegria que senti ao ouvir um dos alunos,‭ ‬ao ver seu nome escrito por sua própria mão e poder lê-lo,‭ ‬ainda mora em mim.‭ ‬Ele simplesmente abriu um sorriso e disse:‭ “‬Agora consigo me ver‭”‬.‭
A adolescência foi regada a muita música,‭ ‬dança,‭ ‬esporte.‭ ‬O vôlei teria sido uma carreira,‭ ‬não tivesse começado a trabalhar cedo.‭ ‬E havia a alfabetização...‭ ‬E as aulas particulares como capital inicial para poder bancar a escola.‭
Aos‭ ‬14‭ ‬anos cursei o segundo grau técnico.‭ ‬Uma novidade da época:‭ ‬Tradutor e Intérprete.‭ ‬No decorrer do último ano me preparei para a FUVEST.‭ ‬De susto,‭ ‬passei e me deparei,‭ ‬aos‭ ‬17‭ ‬anos,‭ ‬com a USP num período em que ainda não havia o prédio de Letras.‭ ‬Tínhamos aulas na Colméia do CRUSP,‭ ‬nos esqueletos de prédios ou ao ar livre.‭ ‬Ingressei exatamente no semestre de despedida de Décio Pignatari.‭ ‬Ainda pude me deliciar,‭ ‬também,‭ ‬com alguns semestres de Literatura Brasileira sob os pensamentos de Alfredo Bosi‭ ‬en persona.‭
Entre o final do que chamávamos Segundo Grau e o início da universidade,‭ ‬perdi o emprego.‭ ‬Intensivei as aulas particulares e passei a fazer revisão de textos,‭ ‬traduções e a pintar camisetas para vender na‭ ‬USP.‭ ‬Naquele mesmo semestre acontecia a Bienal do Livro,‭ ‬onde apanhei uma revista gratuita da Editora Brasiliense.‭ ‬Nesta revista havia vinte anúncios de publicações alternativas de literatura e autores alternativos.‭ ‬Entrei em contato com todos eles.‭ ‬Havia‭ ‬um anúncio de um concurso literário‭ (‬de poesias‭)‬,‭ ‬lá no Rio Grande do Sul,‭ ‬um Estado pelo qual sempre fui apaixonada.‭ ‬Por insistência de amigos escrevi um poeminha e mandei,‭ ‬só por diversão.‭ ‬E fui classificada.‭ ‬Foi a primeira publicação de algo de minha autoria.‭ ‬Enquanto isto,‭ ‬os alternativos chegavam,‭ ‬os contatos se multiplicavam.‭ ‬Acabei lançando o POEMAGIA,‭ ‬que teve início com‭ ‬20‭ ‬cópias xerocadas e terminou com tiragem de mais de cinco mil exemplares.‭ ‬Depois lancei uma revista que reunia todos os estilos‭ ‬de pensamento,‭ ‬literatura,‭ ‬crenças e filosofia.‭ ‬Já no período do POEMAGIA lancei alguns concursos literários e respectivas antologias.‭ ‬Foi quando decidi manter distância pública da política,‭ ‬já que era bastante procurada por candidatos que talvez jamais tivessem investido seu tempo em leitura.‭ ‬Em virtude dos projetos de alfabetização também fui muito perseguida por políticos,‭ ‬cujo capital não deveria descobrir seu próprio cérebro...‭ ‬Foi barra.‭
Era fim dos anos oitenta,‭ ‬início dos noventa,‭ ‬quando tive a oportunidade de conviver com profissionais de diversas áreas.‭ ‬Profissionais da medicina,‭ ‬da engenharia,‭ ‬da pedagogia,‭ ‬entre muitos outros,‭ ‬foram laboratórios do que hoje chamo de‭ “‬métodos de pensares‭”‬.‭ ‬Isto tudo regado a muita italianada,‭ ‬sotaques variados da vizinhança,‭ ‬poetas,‭ ‬contistas,‭ ‬músicos.‭ ‬E os sustos na universidade que me parecia gigantesca demais.‭ ‬Foi um período duro para estudantes.‭ ‬A gente dependia de um agente livreiro que contrabandeava dicionários estrangeiros‭ ‬– coisa rara e por demais cara...‭
Enfim,‭ ‬o ensino sempre acompanhou meus passos.‭ ‬E o aprendizado infindável.‭ ‬Inclusive aqui...‭

"Enquanto tiver um pouco de visão,‭ ‬continuarei pesquisando e aplicando o que puder ajudar a fazer de nosso mundo algo mais suportável a todos.‭"

Dezembro de‭ ‬1999.‭ ‬Dia quatro.‭ ‬Cheguei à Alemanha numa tarde gelada.‭ ‬A partir daí,‭ ‬muitas mudanças e choques culturais...‭
Em janeiro de‭ ‬2000‭ ‬fui convidada a participar de um projeto do Ministério da Educação para a realização  um programa de rádio.‭ ‬O objetivo era reunir‭ ‬35‭ ‬representantes de países diferentes,‭ ‬que trariam a música e um pouco da cultura de seus países de origem.‭ ‬Foi então que,‭ ‬ao apresentarmos o‭ ‬programa pela osradio,‭ ‬fui convidada pela diretoria desta rádio a apresentar um programa sobre a cultura brasileira.‭ ‬Seriam duas horas de duração,‭ ‬sem intervalos comerciais.‭ ‬Aceitei,‭ ‬sob as condições de que uma de suas duas horas fosse dedicada à cultura‭ ‬mundial,‭  ‬e o programa inteiro seria em alemão,‭ ‬salvo em casos de entrevistas com brasileiros,‭ ‬que teriam tradução simultânea.‭ ‬Assim nasceu o programa Revista Viva,‭ ‬que levo ao ar,‭ ‬ao vivo,‭ ‬até hoje.‭ ‬E cuja transmissão é repetida pela Radio Weser,‭ ‬em outro‭ ‬Estado alemão,‭ ‬a convite,‭ ‬também,‭ ‬da diretoria da rádio.‭
O Revista Viva estava no ar havia mais ou menos um ano.‭ ‬A diretoria da osradio solicitou mais um programa,‭ ‬também de duas horas,‭ ‬em outro horário.‭ ‬Nascia a dupla‭ “‬Brasil com S‭”‬,‭ ‬de uma hora,‭ ‬e o‭ “‬Musika‭ ‬– die schönste Sprache der Welt‭”‬,‭ ‬de uma hora,‭ ‬produzido e apresentado por Clemens Maria Pohlmann,‭ ‬que,‭ ‬por sua vez,‭ ‬apresenta a segunda hora do Revista Viva até hoje.‭
Além do rádio,‭ ‬já lecionava português na Escola‭  ‬Superior Livre da região e de outras cidades,‭ ‬até que a Escola Superior de Ciências Econômicas daqui me convidou para assumir a docência oficial de língua portuguesa,‭ ‬a cultura e história do Brasil.‭ ‬Assumi há quase dez anos e continuo com este trabalho paralelo,‭ ‬onde também aproveito para divulgar a produção cultural atual em todas as‭ áreas.‭ ‬O curso envolve estudantes de todas as outras faculdades desta escola superior,‭ ‬especialmente das Faculdades de Música,‭ ‬Gestão Internacional,‭ ‬Agropecuária,‭ ‬Arquitetura e Paisagismo etc.‭
Minha atividade profissional,‭ ‬além das descritas acima‭ (‬sendo que o rádio permanece um hobby‭)‬,‭ ‬no entanto,‭ ‬abrange a área da Psiquiatria,‭ ‬onde trabalho na estruturação diária de pessoas com distúrbios psíquicos e dependências de toda ordem.‭ ‬Paralelamente,‭ ‬retomei os estudos de Psicologia,‭ ‬após fazer uma especialização na área de Nutrição Multifuncional.‭
Enfim,‭ ‬trabalho não falta...‭ ‬Atualmente preparo um livro sobre os temas abordados em meus workshops intitulados‭ “‬Daheim in meinen Körpern‭”‬,‭ ‬algo como‭ “‬Em casa em meus corpos‭”‬.‭ ‬Um trabalho que abrange a alimentação de toda espécie:‭ ‬propriamente dita,‭ ‬preventiva,‭ ‬terapêutica,‭ ‬emocional,‭ ‬espiritual e social.‭ ‬Pretendo levar estes workshops para o Brasil também.‭ ‬Um trabalho que tenho estruturado em parceria com o conceito que desenvolvi no âmbito do Psicodrama,‭ ‬chamado‭ “‬Tela Estrutural‭”‬,‭ ‬que visa a saúde integral‭ ‬– especialmente através do equilíbrio psicológico.‭
O que mais tenho para contar‭? ‬De minha constante saudade do Brasil,‭ ‬de minha paixão por gatos e felinos afins,‭ ‬por gente,‭ ‬por pesquisas...‭ ‬Apesar da reduzidíssima visão,‭ ‬que me impede,‭ ‬muitas vezes,‭ ‬de estar intensivamente nas mídias sociais,‭ ‬não desisto de aprimorar meus trabalhos.‭ ‬Enquanto tiver um pouco de visão,‭ ‬continuarei pesquisando e aplicando o que puder ajudar a fazer de nosso mundo algo mais suportável a todos.‭

‭2) Como foram os primeiros momentos vivenciando uma cultura totalmente diferente daquela que estava formada? 
Foram momentos de choques,‭ ‬muitos choques.‭ ‬Culturais e quetais...‭
O primeiro choque foi perceber que o alemão falado nesta região‭ (‬Baixa Saxônia‭)‬,‭ ‬não tinha muitas semelhanças ao alemão que havia aprendido no Brasil‭ – ‬com professores provindos,‭ ‬na sua maioria,‭ ‬da Bavária...‭ ‬Tive de reaprender a língua e muito rapidamente.‭
Já na primeira semana recebi a notícia oficial do Ministério da Educação a respeito do não reconhecimento de meus estudos‭ (‬Universidade de São Paulo‭)‬.‭ ‬Informação não condizente com a que havia recebido,‭ ‬ainda‭  ‬em São Paulo.‭ ‬Foi como jogar no lixo uma série de lutas que tive de vencer para concluir a universidade...‭  ‬O caminho,‭ ‬naquele momento,‭ ‬foi optar por desvalidar totalmente minha formação,‭ ‬a fim de tentar ingresso à universidade local.‭ ‬Como meu sonho sempre fora estudar Psicologia,‭ ‬abracei a chance.‭ ‬Aliás,‭ ‬não foi um abraço,‭ ‬propriamente dito...‭  ‬Agarrei a chance com unhas,‭ ‬dentes,‭ ‬teimosia e raiva.‭ ‬Passei alguns anos frequentando os cursos chamados de‭ “‬equiparação pedagógica‭”‬,‭ ‬que me dariam uma remota chance a um novo estudo.‭ ‬Disto dependeriam as notas que conseguisse alcançar.‭ ‬Enfim,‭ ‬consegui o NC exigido para Psicologia e ingressei na universidade presencial local.‭ ‬Neste ínterim,‭ ‬candidatei-me à docência de língua portuguesa na faculdade livre.‭ ‬A contratação veio algumas semanas mais tarde,‭ ‬quando a docente em atividade até então abandonaria o cargo.‭ ‬Assumi no dia seguinte e lá permaneci por três anos.‭
Outro choque foi perceber a gigantesca distância literária que se estabeleceu ao longo das décadas.‭ ‬Para minha desilusão e,‭ ‬creio,‭ ‬para a de Goethe e companhia,‭ ‬a literatura atual é banal,‭ ‬sem grandes surpresas possíveis,‭ ‬seja na prosa ou no verso.‭ ‬Ainda assim,‭ ‬em‭ ‬2000‭ ‬participei de um concurso literário,‭ ‬promovido pela Biblioteca Nacional de Autores de Língua Alemã,‭ ‬em Munique.‭ ‬Fui classificada e tive o trabalho publicado na Antologia correspondente aos classificados daquele ano.‭ ‬Mas não me sinto muito motivada a investir muita energia nisto.‭
No âmbito social,‭ ‬mais choques.‭ ‬O Muro de Berlim já havia caído havia algum tempo,‭ ‬mas muros persistem até hoje.‭ ‬E eu não os arranho mais.‭ ‬E nem os importo em mim.‭ ‬A luta pela manutenção de minha dignidade é diária...‭
Nos primeiros anos o que mais me chocava era a falta de informação do povo daqui com relação ao Brasil.‭ ‬Por isto decidi manter o Revista Viva,‭ ‬no qual me dedico a divulgar o que o Brasil tem de melhor,‭ ‬tanto na cultura,‭ ‬como em setores como a própria psiquiatria,‭ ‬medicina em geral,‭ ‬universidades e projetos sociais privados e voluntários.‭ ‬A música é uma referência,‭ ‬por aqui,‭ ‬e foi através dela que consegui abrir os ouvidos do público ao Brasil de forma mais criteriosa.‭ ‬O mesmo tenho feito em minhas aulas.‭
No mais,‭ ‬meu trabalho na Psiquiatria,‭ ‬teve início há treze anos.‭ ‬E este caminho também não é traçado sem choques culturais.‭ ‬Candidatei-me a uma vaga de faxineira num complexo psiquiátrico de moradias monitoradas.‭ ‬Tinha muita curiosidade a respeito do o método alemão terapêutico e esta vaga era uma excelente oportunidade de ver tudo muito de perto e no cotidiano real.‭ ‬O diretor não queria me dar a vaga,‭ ‬por ser para faxina,‭ ‬mas...‭ ‬Assim como minha insistência,‭ ‬lá no finalzinho dos anos‭ ‬60,‭ ‬junto ao diretor da escola pública,‭ ‬apliquei a mesma tática por aqui,‭ ‬até que consegui o trabalho parcial e tive a oportunidade de contatar com diversos diagnósticos e mundos bastante diferentes em interação.‭ ‬Três meses mais tarde,‭ ‬o diretor me comunicou que eu assumiria a coordenação de um setor que deveria ser criado no complexo,‭ ‬dedicado a medidas de estruturação diária e‭ (‬re)integração social de nossos pacientes.‭ ‬Montei o departamento,‭ ‬onde desenvolvo vários projetos até hoje.‭
Alguns meses após ter iniciado o trabalho na psiquiatria,‭ ‬fui convidada pela escola superior local a assumir a docência que mencionei no início.‭ ‬Assumi e,‭ ‬o trabalho na Psiquiatria,‭ ‬rádio etc.,‭ ‬meus estudos presenciais já não seriam mais viáveis.‭ ‬Transferi-me à Fernuni,‭ ‬Universidade à Distância,‭ ‬em Hagen,‭ ‬onde tenho dado continuidade,‭ ‬aos trancos e barrancos,‭ ‬aos meus estudos.‭ ‬Que também interrompi para fazer algumas especializações em Psicodrama,‭ ‬PNL,‭ ‬entre outras.‭ ‬A última teve por inspiração alguns pacientes com transtornos alimentares e minha própria saúde.‭ ‬Precisava de uma formação abrangente nas áreas de alimentação e psiquiatria e foi o que fiz.‭ ‬A partir disto,‭ ‬estruturei o conceito que denomino‭ “‬Tela Estrutural‭”‬,‭ ‬que aplico não apenas para distúrbios alimentares,‭ ‬pelo fato de ter me livrado de‭ ‬65‭ ‬quilos e pela demanda do tal‭ “‬segredo‭”‬,‭ ‬mas a todos os aspectos da vida.‭ ‬Ainda neste ano iniciei uma série de workshops e retomei a universidade agora em outubro de‭ ‬2016.‭
As diferenças culturais são imensas.‭ ‬A Alemanha passa por um processo bastante delicado,‭ ‬atualmente,‭ ‬quanto à questão dos refugiados.‭ ‬E nós,‭ ‬estrangeiros que já vivemos há mais tempo por aqui,‭ ‬não ficamos livres dos preconceitos e da hostilidade,‭ ‬embora não seria justo generalizar.‭ ‬O medo é um fator crucial neste cenário,‭ ‬entendo...



3) Para ficarmos, por enquanto na esfera literária, o que você enxerga como proximidade entre a literatura brasileira atual que você conhece e a literatura alemã também atual?
Seria leviano de minha parte expressar uma análise generalizante,‭ ‬já que não tenho acompanhado de forma bem meticulosa a literatura que tem sido produzida atualmente.‭ ‬O que posso dizer,‭ ‬no entanto,‭ ‬é que houve aqui,‭ ‬como aí,‭ ‬uma onda de biografias e romances históricos.‭ ‬Aqui a literatura atual se limita a uma produção dedicada mais claramente ao entretenenimento e não ao exercício de exploração estética,‭ ‬por exemplo.‭ ‬Na poesia alemã este aspecto se faz ainda mais claro.‭ ‬O que chega a irritar na poesia alemã é a linguagem óbvia demais,‭ ‬em detrimento do conteúdo e do teor estético da palavra.No Brasil,‭ ‬excetuadas as obras que me chegam,‭ ‬cuja qualidade literária se manteve ao longo de tantos anos,‭ ‬percebo um crescimento no mercado de obras históricas e filosóficas contemporâneas,‭ ‬o que considero de extrema importância ao desenvolvimento crítico e formativo.‭ ‬Em minha última viagem ao Brasil houve um fato recorrente que me espantou de forma bastante positiva.‭ ‬Em várias oportunidades verifiquei pessoas com livros nas mãos.‭ ‬Pessoas lendo em transportes públicos,‭ ‬por exemplo.‭ ‬Esta é uma semelhança de descrição de hábito.‭ ‬O alemão lê muito‭ ‬– especialmente no inverno,‭ ‬por ser um período em que se sai muito menos frequentemente de casa.‭ ‬O que me tem espantado‭ (‬infelizmente,‭ ‬neste caso,‭ ‬não de forma positiva‭) ‬é a decadência da qualidade das obras que‭ ‬leem.‭ ‬Devo mencionar,‭ ‬no entanto,‭ ‬que os preços em ambos os países são muito discrepantes.‭ ‬O livro,‭ ‬na Alemanha,‭ ‬em geral,‭ ‬tem um preço bem acessível...‭ ‬As livrarias,‭ ‬por aqui,‭ ‬estão sempre‭   ‬movimentadas e a oferta é avassaladora.‭ ‬O mesmo não se pode afirmar no tocante à qualidade literária do que se produz...‭ ‬Sinto muito,‭ ‬mas não me sinto em condições de me aprofundar de maneira mais adequada nesta comparação.‭ ‬Leio demasiadamente em meu dia-a-dia,‭ ‬mas há anos minha leitura tem-se limitado em grande parte‭ ‬à literatura técnica,‭ ‬científica,‭ ‬além da filosofia contemporânea.‭ ‬Os romances,‭ ‬em geral,‭ ‬são traduções comerciais de autores ingleses,‭ ‬norte-americanos entre outros,‭ ‬que não me têm motivado,‭ ‬sob a escassez de tempo na qual vivo.‭

4‭) ‬E quanto às questões políticas,‭ ‬como você vê o momento atual‭? ‬Estamos em franco regresso,‭ ‬ou o caso brasileiro é pontual‭?
Vejo‭ ‬  a situação política de cada país é o reflexo do grau de‭ ‬negligência‭ ‬de cada povo.‭ ‬ Não diria que estamos em franco regresso.‭ ‬Diria que estamos nos conscientizando de nosso papel na sociedade.‭ ‬O povo não pode‭ “‬largar‭”‬ o seu país nas mãos de qualquer um.‭ ‬Você não deixa de observar‭  ‬o trabalho de seus funcionários em sua própria empresa,‭ ‬quando tem consciência de sua própria responsabilidade diante de seu trabalho.‭

5) O que é o conceito‭ “‬Tela Estrutural‭”?
‭“‬Tela Estrutural‭”‬ é uma dinâmica de exteriorização de conteúdos subconscientes que,‭ ‬na maioria dos casos,‭ ‬somatizam e nos causam os mais diversos sofrimentos.‭ ‬Baseio a metodologia nos conceitos do psicodrama em interação com elementos de várias abordagens psicoterapêuticas e acompanhadas de conceitos neuropsicológicos,‭ ‬através dos quais se pode chegar à identificação da causa de determinadas enfermidades e de inúmeros transtornos.‭
Vale ressaltar que não apenas o cliente é beneficiado com o método,‭ ‬como também os participantes da dinâmica,‭ ‬que funcionam como telas nas quais se manifestam os sintomas,‭ ‬as‭ “‬imagens‭”‬ inesperadas,‭ ‬com as quais os agentes‭ (“‬telas‭”‬) geralmente encontram-se igualmente em conflito.‭ ‬Trata-se,‭ ‬assim,‭ ‬de um processo eficiente a todos os presentes no grupo.‭
O conceito de‭ “‬tela estrutural‭”‬ está detalhadamente descrito no site que em breve disponibilizarei.‭



‭6) Você disse numa resposta anterior que a literatura alemã, para sua surpresa, a "‬literatura atual é banal,‭ ‬sem grandes surpresas possíveis”. Isso parece ser sintomático tanto na Alemanha quanto no Brasil e em outros lugares. O que acontece no mundo agora? Estamos vivendo a superficialização das relações, das ideias, dos questionamentos?
Nosso ritmo de vida atual nos bombardeia com estímulos externos e constantes de tal forma,‭ ‬que a maioria das pessoas tem deixado de lado o contato com o seu próprio universo criativo.‭ ‬Tudo o que precisamos saber está pronto,‭ ‬em alguma página virtual.‭ ‬Vamos lá e buscamos a informação.‭ ‬O restante,‭ ‬aquilo que poderíamos desenvolver intelectualmente,‭ ‬fica amortecido pela urgência de informações colhidas às pressas.‭ ‬Mergulhamos numa sociedade líquida,‭ ‬na esperança de nos reencontrarmos em alguma esquina de nosso ego desesperado.‭
No entanto,‭ ‬penso que este processo de superficialização nos socorre um pouco de algo que defino como‭ “‬medo de si mesmo‭”‬.‭ ‬O processo criativo é infinitamente abundante sob a condição de mergulhos em nosso potencial interno.‭ ‬Fugimos deste universo interno,‭ ‬talvez de forma predominantemente inconsciente,‭ ‬por duvidarmos de nossa capacidade de nos descobrirmos imperfeitos.‭ ‬Fugimos daquilo que é nada mais‭ ‬que natural.‭ ‬Fugimos da descoberta de que somos seres incógnitos em vários aspectos.‭ ‬Permanecemos na superfície para nossa própria proteção.‭ ‬E recorremos aos relacionamentos que apenas se limitem a nos fornecerem uma certa medida do quanto somos‭ “‬adequados‭”‬ a este mundo líquido.‭ ‬Esta superficialidade reflete‭ ‬nossa preguiça criativa ou nosso medo de uma evidência incômoda‭? ‬O medo de nos assumirmos únicos,‭ ‬diferentes,‭ ‬possíveis,‭ ‬nos acomoda e nos acovarda‭?‬ Lembro-me de reações que provoquei em alguns trabalhos meus,‭ ‬lá no início dos anos‭ ‬80.‭ ‬Os leitores,‭ ‬chocados,‭ ‬não se preocupavam em internalizar determinados conceitos contidos na estética da qual me servia.‭ ‬O choque semântico os prendia a uma necessidade de se protegerem de minha ousadia.‭ ‬Ousadia que nada mais era do que um convite à revisão de nosso comportamento frente a nossas necessidades humanas.‭ ‬Certamente as reações teriam sido ainda mais violentas nos dias atuais.‭

"Nossa geração praticamente não teve tempo de se adaptar a tudo o que se tem apresentado em nossa vida.‭"

A convivência,‭ ‬hoje,‭ ‬se torna muitas vezes insuportável diante de nosso quase estado de letargia.‭ ‬Por outro lado,‭ ‬a tentativa de questionamentos nos pode resgatar desta letargia.‭ ‬Se tomo a iniciativa de perguntar àquele que considero meu contrário,‭ ‬de saber como ele pensa,‭ ‬sente,‭ ‬ama ou odeia,‭ ‬disponho-me a aprender outras perspectivas com‭ ‬as quais‭ ‬posso até continuar discordando,‭ ‬mas aprendo a definir os limites do que poderia considerar‭ “‬a verdade‭”‬.‭ ‬Aos poucos tendemos a ampliar nossa capacidade de aprender o mundo do outro além de dicotomias.‭ ‬Ou nos posicionamos à margem de tudo e pagamos‭ ‬o preço de nossa arrogância.‭ ‬E adoecemos mais e mais.‭ ‬E mais cedo.‭
Minha percepção,‭ ‬no entanto,‭ ‬não significa que considere o mundo atual‭ “‬um mundo perdido‭”‬,‭  ‬como se tem ouvido muito frequentemente.‭ ‬Simplesmente passamos por um processo de mutações,‭ ‬de revisões de valores e de posicionamentos habituais.‭ ‬E aí reconheço,‭ ‬em meu cotidiano profissional,‭ ‬o quanto o hábito nos capturou e nos tem adoecido cada vez mais.‭ ‬Sua pergunta reflete bem minha intuição a respeito de nossa disposição a reflexões sobre nós‭ ‬mesmos e sobre nossa interação neste mundo atual,‭ ‬que nos é tão desconhecido.‭
Nossa geração praticamente não teve tempo de se adaptar a tudo o que se tem apresentado em nossa vida.‭ ‬E esta geração que vemos crescer num cenário completamente acelerado também ainda não teve tempo de descobrir o que havia antes dela.‭ ‬E nos encontramos neste contexto,‭ ‬neste beco com saída,‭ ‬ feito índio em primeiro contato com o branco.‭ ‬Este contraste apenas se repete,‭ ‬naturalmente sob outros cenários...‭ ‬Um primeiro choque,‭ ‬um olhar mais demorado,‭ ‬uma tentativa de contato.‭ ‬A interação é construída aos poucos.‭ ‬Também sob este aspecto vejo a história em repetição.‭ ‬Sob outro cenário,‭ ‬repito.‭
Vejo este momento como uma riquíssima oportunidade de aprendizados multilaterais.‭ ‬Quem tiver coragem suficiente de admitir seus medos,‭ ‬limites e solidões de si,‭ ‬terá mais condições de redescobrir a infinitude criativa.‭

7) O que você tem planejado para o futuro próximo?
Dar prosseguimento ao livro e aos vídeos referentes aos meus workshops,‭ ‬continuar meus trabalhos por aqui e levá-los ao Brasil,‭ ‬seguir com os estudos e com o Revista Viva e a divulgação da cultura brasileira.‭
No mais,‭ ‬planos geralmente encontram surpresas.‭ ‬Deixo-me surpreender.‭

8) Alguma pergunta que você gostaria que eu tivesse formulado? Algum tema que queria abordar? Se sim, por favor, faça e a seguir responda. Obrigado pelo carinho e interação nesse diálogo? 
Obrigada pela adorável caminhada por alamedas do passado e do momento atual. Que possamos continuar em parcerias futuras e frutíferas. Foi realmente um grande prazer e uma honra. Você sabe o quanto o admiro e respeito. Sejamos, todos, insistentemente teimosos. E continuemos nossos passos. Flores.

* Envie sua obra para Tânia Gabrielli-Pohlmann
Hesselkamp 21
49088 Osnabrueck
Deutschland (Alemanha)

Texto: EscobarFranelas
Fotos: arquivo TGP (Facebook)
Foto 2: no estúdio da osradio, com seu marido Clémens

24.11.16

Entrevista - ÁLVARO POSSELT (Literatura) - PR

Arquivo do autor

A arte, na maioria das vezes, oferece o inusitado, inclusive fora do seu escopo natural, a fruição inteligente. Em certas situações, o encantamento vem do seu confronto com a falibilidade com a vida. Como exemplo, recordo aqui o escultor Euflávio Góis (São Miguel Paulista, SP), que afirma nunca ter sido tocado pela brisa benfazeja da criação artística, até que, aposentado e com a vida sem querelas existenciais, de repente foi abalada e ganhou contornos surpreendentes quando ele começou a esculpir em madeira. Nascia ali um artista - que agora inclusive aventura-se na poesia também - cuja lógica do mundo felizmente foi desrespeitada a bel-prazer, dele, nosso, de todos.
Penso nisso enquanto releio a entrevista que fiz com o poeta paranaense Álvaro Posselt. Conheci seus haicais trafegando em algum momento pela internet. De cara, fui sacolejado pela epifania ligeira que seus versos curtos e certeiros me provocavam. A mim só não, a toda uma galeria de confrades que passaram a orbitar em torno de seus escritos, como vespas em volta da lâmpada. Parece até ser um argumento clichê, mas quem se propor a lê-lo, verá que o autor é, sim, merecedor dos louros que vem colhido pelo caminho.
Ofereço este diálogo que tivemos durante uns 25, 30 dias, através de e-mail. Desfrutem-no!



1) Acho que podemos começar esse diálogo com você falando de infância e juventude, sua formação etc. 
A pergunta pelo meu caminho literário: Comecei a rabiscar meus primeiros versos com uns 15 anos. Coisas de menino tímido, apaixonado e inquieto. Na mesma época fui tomando gosto pela leitura com incentivo de um amigo, o Gilmar. No começo, não gostava, era vidrado em vinil. Com o tempo, já estava lendo um livro no almoço no
trabalho e outro à noite em casa. A escrita ganhou uma tonalidade mais incisiva quando comecei a frequentar a Oficina de poesia permanente, da Biblioteca Pública do Paraná, em 2003, onde conheci o haicai. No ano seguinte comecei a fazer Letras. Foi quando estudei o haicai, objeto do meu TCC. Meu primeiro livro saiu em 2012. Acabo de lançar meu quinto, todos de haicai.

2) Você tem autores ou atoras que possa citar como referências?
É difícil citar nomes, mas aqui vão alguns: Quintana, Leminski, Manoel de Barros, Bandeira, Drummond, Neruda, Bashô, Issa. Na prosa, Italo Calvino, Hermann Hesse, Luís Fernando Veríssimo, Cortázar, Borges.

3) Por favor, enumere os seus livros já lançados, em que anos e respectivas editoras. 
Tão breve quanto o agora (2012), Um lugar chamado instante (2013), Entre arranhões e lambidas - haicais & gatos (2014), Kaki (2015), todos esses publicados pela Editora Blanche; Na sopa do sapo (2016), pela Editora Insight.
Todos os livros são de haicai.

4) Como você vê o mercado editorial brasileiro hoje para quem escreve uma poesia tão peculiar, como o haicai?
O mercado anda muito tendencioso, infelizmente. Participo de feiras de livro e a febre são os youtubers, pokemons e minecraft.
Não há como disputar obviamente, mas mesmo assim acho que o haicai leva uma certa vantagem no campo da poesia por ser breve. Nas redes sociais vai muito bem. Em tempos de pressa, urgência, imediatismo, o haicai consegue se integrar.
Por outro lado, o poema japonês é riquíssimo para se explorar em sala de aula, não só na leitura mas também na produção.
Faço oficinas e vejo o resultado. Acredito muito na força do haicai dentro do mercado editorial.


5) Como fica a arte no mundo hoje, com a radicalidade dos discursos e a urgência tratada como prioridade?
Por conta desta urgência, desta pressa, nos tornamos muito vazios e superficiais. A radicalidade também surgiu como uma febre, um olho por olho... Como figura a arte neste cenário? Infelizmente não aparece nem como coadjuvante.
Em termos práticos, vividos no dia a dia, sinto que a literatura se tornou uma prateleira de youtubers e outros temas imediatistas. A literatura clássica está condenada!
O ponto a favor é que o haicai é um tipo de poema que se encaixa muito bem nas redes sociais. O seu aqui e agora consegue se infiltrar bem nestes tempos de urgência, pois é um texto curto, objetivo.
De qualquer forma, o saldo ainda é negativo em meio às banalidades virtuais!
A arte está deixando de ser uma essência e se transformando em ausência, reflexo da falta de prioridade do ser coletivo em contraposição ao ser individual.

6) “A literatura clássica está condenada!” E o que está sendo produzido hoje que poderá ser chamado de “clássico” no futuro?

A literatura de hoje ainda é uma incógnita.
Difícil definir! Por um lado é banhada por um oceano passageiro, criado pela mídia. Por outro lado, por poucos e bons autores, alguns se destacando, outros já com nome, como Tezza, Hatoum, Mia Couto.
Prevejo com certo pessimismo o panorama da literatura do futuro.

7) Você tem algo previsto para lançar brevemente? Como está a sua "agenda" literária?
Meu próximo projeto é um livro infantojuvenil. Desta vez não é haicai.
É prosa. Inscrevi-o na lei de incentivo. Neste mês sai o resultado.
Para este mês será lançado um pacote com minhas poesias através do Sesc Paço da Liberdade. O projeto se chama Pacote de poesia.
Também serão lançados meus poemas em copinhos de café, parceria com uma cafeteria aqui de Curitiba. Minha agenda está mais tranquila agora, não fixa. Visitarei escolas e farei oficinas de haicai, também participarei de algumas feiras e outros eventos.

8) Tem alguma pergunta que gostaria que eu tivesse formulado e não o fiz? Se tiver, faça-a você e a responda, por favor. Agradeço.

Meu caro, acho que as suas perguntas já fazem um ótimo panorama.
Agradeço imensamente e peço desculpa pela demora. Abração.
Alvaro


22.11.16

Um textículo: "queijo e goiabada"


humor sem amor
saco vazio não para em pé

amor sem humor
saco em pé não ampara
mesmo cheio de rimas pobres

os dois, tal&qual
bonnie&clyde sem um filme
isolda&tristão sem wagner
julieta&romeu sem palco
eva&adão em big-bang
são mote para muitos amores
juras de muitas mortes

16.11.16

Um textículo: "cotidiano"


hoje
pela primeira vez
atropelei uma latinha de cerveja
quem a lançou foi o carro à frente
quase de lado

juro

todo o ouro esparramado na pista
umedeceram os olhos
emudeceram a roda

todo o sangue do mundo
era amarelo

11.11.16

Um textículo: "teatro de absurdos"


para um, não há prova mas há convicção.
para alguns: há provas 
e a convicção do cinismo.
(da série "haicaos")

10.11.16

4.11.16

Um textículo: "banal"


primeiro foi a voz de clara nunes
aos 7, 8 anos
mas o primeiro susto veio com
divina comédia humana, de belchior
que me desconcertou, e nunca mais me consertei

mais ou menos aos nove
depois veio itamar, russo, ro ro
elis ella billie
cazuza

hoje
no youtube
posso ouvir belchior todos os dias
e a força do mal é ser repetitivo
portanto banal
excessos de divino, de comédia
e de humano
tornam todos os mistérios iguais
(não fazem mais sentido algum)
ou pior, passam a fazer sentido

3.11.16

Um textículo: "do tamanho do olhar"


o melhor retrato
é feito pelo espelho

retoques de photoshop
não disfarçam as rugas  da alma
nem as cores originais

1.11.16

Um textículo: "poeta pop"


quis escrever sobre sexo
depois discorreu sobre paixão
tentou liberdade, saciedade e morte
e arvorou-se do amor

nada deu certo
desistiu
voltou atrás
diz que agora escreve poesia

31.10.16

Música para ouvir, para curtir, para viver: "Pisagens"


meu coração, tranqüilo e sereno
vai à janela, à procura do teu
e o teu coração, perene e seguro
pousa e voa, à procura do meu.
se por acaso, estiver só
leve meus olhos, pra passear
e meu coração pra tomar sol.
os meus pés, de tantas pisagens
decerto conhecem, os desfiladeiros
a bruta agonia, de toda paisagem
que vai e que voa
em torno dos olhos

*poema de Escobar Franelas, musicado por Éder Lima e cantado por Ligia Regina:



29.10.16

Caravana Rolidey: roda de conversa sobre poesia na estação de trem de Osasco

Marina Ruivo


Sexta-feira, dia 28,  participei pela primeira vez da Caravana Rolidey, numa roda de debates sobre poesia, dentro da estação Osasco de trem. A trupe de poetas foi uma das convidadas do projeto Livro Livre, que está em sua 11a. edição. O Livro Livre visa a arrecadação e distribuição de livros sem qualquer tipo de cadastro ou burocracia aos usuários de trens nas linhas de SP. São caixotes dispostos estrategicamente em pontos de grande afluência de público, dentro das estações. Segundo Afonso Romero, da CPTM, a ideia é de que novas frentes se abram naturalmente, num processo de ocupação de espaços públicos e distribuição das obras.
A Caravana Rolidey, criada pelo escritor Erre Amaral (MG), tem como meta o deslocamento de escritores de confins para confins, relatando histórias de vida, trocando experiências e falando de processos criativos. Em São Paulo, a organização esmerada teve a assinatura de Marina Ruivo (USP), que criou as condições necessárias para que os encontros em diversas estações (Brás, Luz, Palmeiras-Barra Funda e Osasco), acontecem e dias sequenciados e com um leque de autores e autoras dos mais diversos gêneros literários. No último dia, em Osasco, foi prestado culto à deusa Poesia. Nós, convidados, recitamos, apresentamos nossas obras e falamos de nossas itinerâncias pelos rincões desses brasis.
Ao lado de poetas do naipe de Ana Moraes (SP), Adri Aleixo (MG) e Wélcio de Toledo (DF), e mediados com muita perspicácia e segurança pela educadora Joana Rodrigues (UNIFESP), durante hora e pouco, pudemos expor e trocar ideias com o público em trânsito na estação.
Quem estiver em circulação pelas linhas de trem de São Paulo, procure saber se nas estações onde vai subir ou descer têm caixotes do Livro Livre. E, caso haja interesse, retire (ou doe) o seu exemplar e... boa leitura!

Joana Rodrigues
Caixotes de distribuição de livros sendo "visitados"

Literatura para todos os perfis



Marina Ruivo e Afonso Romero

Texto e fotos: Escobar Franelas

26.10.16

Um textículo: "parêmia drummondiana"


tinha um mundo no meio da vida
tinha uma montanha no meio do mundo
tinha uma pedra no meio da montanha
tinha uma flor no meio da pedra
tinha um pólen no meio da flor
tinha um coração no meio do pólen
tinha uma vida no meio do coração

23.10.16

Resenha - livro "Face Emplumada" (Gláuber Soares)


Temos, em Face Emplumada, uma obra análoga ao cinema de estrada, um road book sob o sol inclemente do sertão. Glauber Soares, o autor desta obra, dá à itinerância de Guto ares e asas de um personagem sui-generis, que dominado por uma força vital que lhe sopra feiticeiramente nos ouvidos a chance de um devir seráfico, deixa tudo para trás, emprego estável e a vidinha amarfanhada na rotina opressiva de São Paulo, para viver uma aventura rútila no meio da caatinga. O que tem nessa tomada de decisão? O que desperta essa vontade de romper os cordões umbilicais da segurança da urbana pela vida selvática no mato? O que leva o garoto quieto e metódico a se embrenhar no mato com uma moto é a ânsia de conhecer Lúcia Maria, uma jovem que vive com o avô num sítio nos arredores de Quixadá, no sertão do Ceará. Uma probabilidade. 
Tudo seria padrão, não fosse o fato do homem ter ficado enfeitiçado pela "galega" apenas por ouvir a descrição de sua beleza contada por um cliente a outro, enquanto os três aguardavam o momento de cortar o cabelo, num dia qualquer, dentro de um salão de cabeleireiro.
Movido pela curiosidade de conhecer essa mulher cuja beleza seduziu o falastrão da cadeira ao lado, Guto inicia nesse momento uma longa viagem interior, que depois irá se tornará em outra, numa marcha alucinada pela poeira e sol nordestinos, que lambuzam sua cara e queimam seu corpo e, acima de tudo, confundem todas as certezas que leva consigo. Nos périplos incertos e movediços, personagens vão surgindo diante de si, oferecendo ao jovem desbravador uma profusão de tipos complexos, como a vida. Mas também aparece cristalina a beleza da amizade desinteressada de caprichos, mesmo nas empreitadas que parecem movidas apenas pela loucura temporã. Seja nos arranjos meta-físico-linguísticos, como com a coruja rasga-mortalha, ou um improvável Ziggy Stardust, que salta do pôster para conferenciar com o anti-herói da trama; ou então nos críveis Sandrinho (que figura! Merecia um livro só pra ele) e seu Galdino, o alone-ego de Guto.
Face Emplumada nos reserva vários substratos de leitura. Um dos, talvez o que mais me chamou a atenção, foi o fato de que, sendo uma história contagiante, aprofunda a ideia de magia que um enredo bem contado provoca na imaginação. Com um ritmo equilibrado, o livro promove em quem se propõe a lê-lo, uma vontade de ir até o fim, sem parar, pelo absoluto domínio que o autor, também ele o proprietário da própria editora, tem da arte da escrita.


Serviço:
Face Emplumada – Glauber Soares

SP, 2015, @link Editora
176 p.

fotos das redes sociais de Gláuber Soares

haiquase (exercicio XXVII)


os corpos de lírios 
parecem deleite 
bebo com os olhos

21.10.16

Um textículo: "o homem de la mancha"


faz muito tempo que perdi o medo da morte
teve muita morte até eu perder esse medo

ambos, medo e morte, dançam um tango trôpego
e um dos pares fatalmente cai
a morte primeiro 
o medo, no mesmo instante

faz muito tempo que desafiei essa sorte
desviei, ludibriei o deus que determina o fim
peguei um atalho
e alguém no meu encalço
quer que eu volte
da morte

tem uma sentença determinando esse lapso
entre o antes de antes
e o pós-depois, onde estamos agora

18.10.16

Um textículo: "cumplicidade"


CUMPLICIDADE

lá está o dia a postos aguardando o deus sol
ele sabe que hoje a imperadora
chove como a vida
ele não tem notícias do sol
mas entende o respeito mútuo
entre as divindades terrenas
e aguarda

só a lua namora os dois
a lua e o arco-íris
Escobar Franelas

13.10.16

Fanzinada: lançamento de Antes de Evanescer em Santo André

Arte de Lico Cardoso

Depois de alguns anos, enfim minha novela Antes de Evanescer ganha um "lançamento oficial" em Santo André. A tarde de autógrafos será durante a Fanzinada, organizada pela incansável Thina Curtis, dentro do simpático espaço Casa da Palavra Mário Quintana, na Praça do Carmo, 171, centro de S. André.
Ah, será a partir das 11h, no meio de muita gente bacana.
E quem levar o livro pra casa, ainda ganhará uma edição especial do fanzine VASTO, da Comunidade do Conto, de Suzano, com textos cuja temática são Literatura Erótica e Identidade Negra.
E, só pra lembrar, aqui há braços para abraços. Sempre! 

10.10.16

Um textículo: "rede social"


Ela escreveu em sua página no Facebook: "Escritora procura editora. Entrego romances com mais de 300 páginas em até um ano. Tenho séries, contos, sci-fi, crônicas, entrevistas e reportagens para pronta entrega. Pró-labore de três salários mínimos ao mês. Contrato a combinar. Currículos em: http:/escobarfranelas.blogspot.com/" 

8.10.16

Um texticulozinho: "make peseudopoético"

Foto http://revistaglamour.globo.com/Beleza/noticia/2015/03/ja-ouviu-falar-em-protese-de-sobrancelha-alo-cara-delevigne.html

face: sobrancelhas
faz-se só brancelhas
sobram centelhas: fase
(da série "haicaos")

3.10.16

haiquase (exercício XXVI)

Foto original em https://www.greenme.com.br/viver/saude-e-bem-estar/3133-mulher-cha-amora-feliz

das frutas que degusto
e gosto
prefiro você, amor a



28.9.16

Entrevista - LILIAN VARGAS (Literatura) - SP


"Leitora voraz, Lilian Vargas desenvolveu, a partir de seu envolvimento com as letras, uma postura crítica e ativa em relação ao mundo literário. Essa condição, porém, longe de abstrai-la ou levá-la pro "mundo do faz-de-conta", abriu-lhe os olhos para uma interpretação profunda e equilibrada sobre a sociedade à volta. Foi essa apologia à vida e ao mundo que vi à tona, primeiro nas interações que formalizamos no portal Recanto das Letras, onde pudemos praticar um diálogo de profundo respeito e aprendizado. Depois, no depoimento para a qual convidei, e ela aceitou, para meu júbilo. A conversa foi toda construída via e-mail, numa mão dupla de perguntas e respostas. O bate-papo enriquecedor, creio para ambas as partes e - espero - para quem se debruçar na leitura a partir de agora, aqui.
Convido o mundo todo a conhecê-la.
Boa leitura!"

1) Com quem estou dialogando? Nome, idade, local de nascimento, casada, filhos, formação etc?...
Bom, quando a gente responde um formulário as perguntas seguem esta  linha, então aqui segue as respostas: meu nome completo é extenso, então opto pelo prenome e  um sobrenome que "adotei" por ter harmonia nas vogais, assim sendo fica Lílian Vargas um nome com sonoridade vocal. Nasci nos idos anos de 1969, em SP, mais precisamente no bairro do Tatuapé.
Sou casada, tenho um filho e resido na região do Alto Tietê. Tenho uma formação acadêmica, mas não atuo na  área, sou funcionária pública. Sou uma mulher espirituosa, introspectiva e muito sensível, costumo dizer a quem me conhece que sou uma mulher que ama...
P.S: Este último parágrafo acrescentei para fugir à formalidade.
Até mais.
Abraços.

2) O que você gosta de fazer? E o que desgosta?
Bom Dia!
Então... é tão difícil falar dessas coisas, não sei, tem tanta coisa que gosto e tantas que desgosto, e por vezes outras que gosto de vez em quando.
Vou tentar:

Gosto:
Refletir, pensar, tentar entender o real sentido da vida, da existência, da vivência em questão, essas coisas me chamam a atenção e sempre gostei. Talvez devesse ter feito Filosofia, mas acho que só gosto pois não tenho obrigação acadêmica de apresentar deduções sobre o assunto, então gosto de coisas ligada ao tema.
Ouvir músicas, mas não sou refinada, então ouço MPB, dance, um pouco de rock, e agora estou aprendendo a gostar e "curtir" as músicas clássicas, por dica de um amigo do Recanto das Letras, mas sempre gostei de músicas com letras fáceis e simples, algo que memoriza e sai cantando.
Ler, e em leitura abraço vários estilos literários, leio romance (claro,não é), aventura, suspense, terror, e de todos os gêneros literários (contos, crônicas, cartas, ensaios, discursos, e por aí vai); leio revista, gibi, jornal impresso, pasmem, ainda leio o periódico aqui da cidade, Jornal da Cidade e Jornal de Arujá, também, só por ler, porque as noticias acabam se repetindo.
Escrever, pegando o "gancho" do último item, gosto de escrever, cartas, poesias, textos diversos, já tive até um diário, coisa de quem gosta de escrever mesmo.
Contato com a natureza, lugares mais bucólicos, talvez porque sempre tenha morado em regiões afastadas do centro da cidade, lugares mais sossegados, sem aquela agitação da cidade grande. Lugares com poucas pessoas e ambientes calmos, nada daquela agitação, gritaria, bagunça, onde tem aquelas músicas estridentes, tipo" bate-estaca", ou passeatas e manifestações, então, nem me convide para manifestar, pois eu não vou. Filmes, já assisti mais, hoje me dia, não tenho paciência para ficar horas no sofá, assistindo filmes, mas gosto também.

Desgosto:
Não gosto de fofocas, sei que todo mundo faz de vez em quando, até eu me peguei já falando de outros, mas há situações em que a coisa saí dos trilhos, e acaba por prejudicar as pessoas. Já fui alvo de fofocas, envolvendo meu nome e o de outra pessoa, deixou um clima péssimo entre a gente, e a relação nunca mais foi a mesma.
Não gosto de cozinhar, se pudesse, se existisse, um mecanismo igual ao do Jornada nas Estrelas, onde a comida saísse pronta (Sintetizador de Alimentos), seria o paraíso.
Não gosto de ser o centro das atenções, isto devido a minha timidez, então chegar em um local, e as pessoas direcionarem a mim a atenção, não me deixa lisonjeada, pelo contrário, sinto-me desconfortável, então evito o quanto posso.
Detesto gritos e brigas, se a pessoa fala alto, me irrita, me incomoda, gritar então, fico incomodada com gritos, berros, xingamentos e tudo que constranjam a quem está vendo ou ouvindo.
Não gosto só de olhar, e nem quero provar, frutos do mar (aqui entendo como estes tens: molusco, marisco, ostras, polvo). Nos demais eu gosto os peixes (sardinha, salmão, atum etc). Também não gosto desses pratos "tipicamente" brasileiros ou que são " pesados" tais como rabada, baião de dois, acarajé, vatapá, eu não como, não gosto nem do cheiro.
Acho que está bom, sempre tem coisas que a gente gosta e desgosta, e depois de um tempo, com a experiência de vida, o contato com outras pessoas, a mudança de olhar sobre determinada situação, há coisas por vezes, que acabam mudando.
Até mais!
Abraços.

3) Sobre o mundo dos livros, quando se iniciou esse contato com eles? Que autores e autoras você admira?
Olá! Bem esta é fácil... Sempre gostei de manusear livros e revistas e tinha um apego pelos meus cadernos na época em que era uma menininha, rs. Com o tempo fui me afeiçoando a gibis, livrinhos infantis que por vezes chegavam até minhas mãos, haja visto que meus pais nunca puderam comprar livros, devido nossa situação econômica e também pesa o fato que meus pais não tiveram acesso a estudos, então leitura não era um  ponto primordial em casa.
Quando ia na casa de alguém, junto com minha mãe e havia livros e revistas eu folheava, ficando absorta naquele mundo cheio de letras, símbolos e significados, algumas vezes me deixavam trazer o livro ou revista em questão.
Quando eu fazia o antigo primário, pude ler livros da biblioteca da escola e meu primeiro livro, foi Emília no País da Gramática, que eu fiquei encantada, e depois vieram outros  memoráveis tais como: O menino do dedo verde, O escaravelho do diabo, O pequeno príncipe e Meu pé de laranja lima, entre outros.
Sempre gostei das poesias e textos de Cecília Meirelles e Carlos Drummond de Andrade, para mim expoentes poéticos, pois Cecília escrevia tão belamente assim como o mestre Drummond. Depois de um tempo li Mário Quintana, e descobri o verdadeiro amor... pois com seus textos tão singelos e plenamente poéticos, me cativaram por completo.
Depois que já tinha mais idade, fiz um cadastro na Biblioteca Pública da cidade de Arujá, um local pequeno, que ficava aqui num casarão, e lá pude vasculhar livros empoeirados e que ninguém se dispunha a ler. Foi aí que conheci Malba Tahan e seus belíssimos contos e fábulas do Oriente. Li vários livros de Jorge Amado, outro autor, que eu ficava em êxtase com suas estórias, um autor por mim amadíssimo. Nesta biblioteca também descobri outro amor literal (sou uma mulher que ama...), li pela primeira vez Gabriel Garcia Marquez, e foi amor à primeira leitura, depois li outros dele, mas o fascinante Cem Anos de Solidão, foi para mim marcante.
Aqui deixo registrado um agradecimento a esta pequena e quase esquecida Biblioteca, pois ela me proporcionou leituras adoráveis. Autores são esses citados, pois se eu puxar pela memória, vem outros tão bons e que gosto, como Machado de Assis, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Cora Coralina, entre outros, que não vou lembrar no momento.
Sei que estou em falta com os grande clássicos mundiais, li Dostoiévski, o famoso Os Irmãos Karamazov; Nietzsche tentei ler E Assim Falava Zaratrusta, mas, confesso, devido à linguagem alegórica me perdi e parei na metade do livro. Odisséia, de Homero, é fascinante e traz mensagens edificantes em sua narração. A Divina Comédia, de Dante, talvez o poema mais lindo que um ser humano possa escrever, eu li e como sempre passional, que sou, amei!!!
Acho que é isto, já está bom, acho que já falei demais.
Até Mais.

4) E o processo de escrever sensações e sentimentos, como se deu em você?
Olá! Como eu mencionei na outra questão, eu escrevia um diário quando adolescente, e creio ser por aí o começo dos registros das emoções e sentimentos, haja vista, que nos escritos fluem uma gama muito forte de apreensões, dúvidas, inquietações e desejos relacionados a vários temas (sexualidade, paixões, relacionamento familiares, entre outros).
O que posso afirmar é que após uma frustração amorosa, que me deixou bastante chateada, escrevi um poema (quadra), que versava sobre o fato e percebi então que escrevendo ficava mais fácil traduzir o que eu sentia, pois uma pessoa introspectiva, com dificuldades de verbalizar o que sente, consegue expressar seus sentimentos e sensações através de algum meio, podendo ser música, artes cênicas ou a escrita, de modo mais fácil e menos traumático. No meu caso, a escrita caiu como uma luva.
Vou deixar registrado aqui o dito poema, ao qual me referi.

“A desilusão veio a mim
Numa tarde chuvosa
Então conheci assim
Uma sensação dolorosa”

Enfim, algo simples, sentimental, piegas e muito típico de adolescente, mas serviu para me indicar que era melhor as letras, de alguma forma, eu dominar já que tinha dificuldades dos sentimentos verbalizar. E assim nasceu o gosto ou melhor, despertou em mim a aptidão de transcrever emoções diversas.
Não sei se respondi o que foi pedido, mas foi isto que entendi na sua pergunta.
Boa Semana!
Abraços.

5) E esta sensação de proximidade com as artes não a faz pensar na possibilidade de um dia profissionalizar-se em algum tipo de expressão, talvez a literária?
Isto ocorre pois é o caminho natural das coisas, se você simpatiza com uma atividade, seu desejo é conhecer  e "abraçar" aquilo de alguma maneira. Eu ainda estou maturando essa idéia, pois na minha vida, tudo aconteceu tarde; eu estudei tarde, casei tarde, tive filho tarde e me descobri expondo meus escritos tardiamente. Espero não ser muito tarde, quando eu decidir ou ainda reste tempo para  minhas memórias.
Mas por enquanto, me vejo sem estilo definido e sem um campo para atuar, visto que este meio literário é muito amplo e com muitas ramificações.

6) Como você vê essa apropriação de ferramentas que permitem uma visibilidade maior, mesmo para pessoas que não estejam inseridas na indústria da produção artística? Caso dos blogues, redes sociais, autopublicação etc.
Houve um tempo, na história da humanidade, em que o conhecimento era restrito a um segmento social ou pessoas privilegiadas e isto em nada contribuiu para alavancar o progresso da sociedade como um todo. Nas artes eu creio que podemos usar o mesmo raciocínio, pois em literatura, o acesso a publicações ficava com pessoas que podiam "bancar" o serviço e tinham conhecimentos com editores e todo mercado editorial, os demais que pretendiam expor seus trabalhos tinham que amargar um sonoro NÃO e sem ter onde recorrer, guardavam escritos preciosos em gavetas e cadernos surrados.
O advento da tecnologia que trouxe oportunidade de acesso, tais como: rede sociais, blogues e afins, deixam mais democrático esse acesso.Tem muita gente boa e escreve coisas maravilhosas mas não tem vitrine, então essa abertura favorece a quem quer se aventurar e tentar captar o leitor com seus sonhos e anseios.
Se não existisse esse acesso, eu jamais conseguiria publicar nada, pois não disponho dos recursos para tal. Também não conheceria tanta gente talentosa e versátil que publica sem ter livro ou uma exposição em mídia.
Creio que o leitor é o grande "juiz", nem sei se usei a palavra certa, mas cabe ao leitor escolher, ver o que lhe agrada, e assim filtrar em um site ou no meio da grande  rede, que  é bom ou não, segundo o conceito pessoal de cada um. Tem muitos textos bons mas tem muita coisa que peca pela falta de coerência, de clareza e até sentido, mas daí, caro escritor, vai do gosto de cada um, ler o que mais lhe convém.
Finalizando, toda forma de disseminar o conhecimento seja ele artístico ou não é válido, pois oferece mais oportunidades de ampliar nossos conteúdos intelectuais, culturais e até emocionais.

7) Tem algum autor ou autora, ou até mesmo um site ou blogue, que você poderia citar como exemplo das afirmações na questão anterior?
Claro, aqui no Recanto das Letras tem a Lucimar Alves e a Sonya Azevedo, que escrevem de forma cativante. Aqui também conheci o pessoal que escreve contos e crônicas sem ter livros editados, como o Aristóteles da Silva e o Gustavo Arauto.
Tem até  você  por essas paragens e expondo seu trabalho artístico.
Também acesso o Varal de Poesias e tem textos bons e de pessoas sem alcance editorial. O Publikador (assim mesmo com K) dispõe espaço para poetas que queiram expor seus escritos ,e lá  tem um versátil  poeta que sempre leio, o Jonathas Lopes.
Tem muita coisa e boa para ler.
Abraços.

8) Como você vê essa "esquina da História" que estamos passando? Você tem medo do futuro?
Essa situação que se instalou no País, claro que oferece medo,pois sou mãe, tenho um filho e penso no futuro dele e dos demais que não tem como optar ou solicitar mudanças, no momento.
Quando eu era criança, via meu pai e minha mãe "catando" na gaveta do armário, moedinhas para comprar pão, leite, óleo e outros itens básicos na alimentação, era uma ditadura militar, faltava dinheiro, sobrava vontades, mas sobrevivemos, com todo medo que pairava na época, sobrevivemos. Agora que na década de 80 entramos na Democracia, parece que o povo não entendeu, democracia é você ter direitos sim, claro, IMPRESCÍNDIVEL, mas e os  deveres? Todos querem os direitos, regalias e viver sem regras, sem normas, sem leis, e a cidadania? E o civismo? Isto se perdeu, parece  coisa sem sentido falar disto na atual conjuntura, onde se convencionou que tem que se  combater, digladiar, brigar e violar todas as normas e conceitos de civilidade para se provar que  tem razão, o que ocorre é que aí, você perde a razão.
Creio que nossa sociedade não está preparada e nem estruturada para lidar com o oposto, com a adversidade de maneira civilizada e isto se mostra nos ultrajes que se vê todos os dias em jornais e revistas. E digo mais, países desenvolvidos, como os europeus sofrem com esta situação, quando pretendem fazer mudanças radicais ou reestruturar sistemas já carcomidos, mas que encontram resistência da população para tal.
Não me pergunte qual é a solução, pois não tenho uma formação em Ciências Políticas, e dou minha opinião de cidadã, eleitora e leitora, pois as relações humanas dependem de muita cessão e nesta complexa teia de vontades e imposição, ninguém quer ceder.
Até mais.

9) A arte pode contribuir para que a vida melhore?
A arte tem seu conceito ou significado ao longo do processo histórico, haja visto as pinturas rupestres da pré-história, transmitiam informação acerca da caça e das situações que apresentavam perigo.
Atualmente,vivemos numa sociedade de instabilidade político/social/econômica e a arte a meu ver, contribui para uma tomada de decisão, à medida que  se trava este diálogo entre o objeto ou obra apreciada e o observador, sendo que este último, põe na análise da referida obra, todo seu conteúdo emocional durante a apreciação.
Então, a arte propicia o debate, a reflexão, a conclusão sobre uma ideia, um conceito,um fator determinante, assim creio que a arte acompanha o homem em seu processo de evolução, e por contrapartida a transformação do meio social.

10) Tem algum assunto que gostaria de ter comentado e eu não ofereci a oportunidade? Se tiver, fique à vontade para pontuá-lo. Obrigado pelo carinho, atenção e presteza.
Creio que falei muito e até  filosofei, coisa que gosto muito de fazer, mesmo sem filósofa ser. Os assuntos fluiram naturalmente e me senti à  vontade no que respondi.
Agradeço a atenção e créditos de sua  parte, aos meus singelos escritos e me coloco sempre à disposição.
Só  para encerrar, para não fugir à regra vou deixar aqui um poeminha.

"Fui pega de supetão
Para expor um pouco de mim
Falar das minhas vivências
Agradeço aqui  de coração
Pois a troca de impressões, assim
Enriquecem nossa existência."

Até  Breve.
Abraços.


Depoimento para Escobar Franelas / Fotos do arquivo pessoal de Lilian Vargas